Jill MacSweeney só quer que tudo volte ao normal. Mas, desde que seu pai morreu, ela tem se isolado do namorado e das melhores amigas – de todo mundo que quer apoiá-la. E quando sua mãe decide adotar um bebê, parece que, de algum modo, está tentando substituir um membro perdido da família por um novo. Mandy Madison sabe o que é crescer sendo indesejável – foi criada por uma mãe que nunca pretendeu ter uma filha. Então, quando Mandy fica grávida, a única coisa de que ela tem certeza é que quer uma vida melhor para seu bebê. É difícil saber o que quer para si mesma. Será que ela vai encontrar alguém que se importe com ela? À medida que seus mundos se transformam, Jill e Mandy devem aprender a se desapegar e a se apegar, e que nada é tão fácil – ou tão difícil – quanto parece. Aclamada pela crítica, Sara Zarr mostra uma história tocante, contada a partir de duas perspectivas, sobre os muitos caminhos que podem nos conduzir a um lar.
Como salvar uma vida – Sara Zarr
De: MMMK333
Para: coração_larDen
Assunto: Re: [oamorcresce] Pedido de Natal
Data: 1º jan 03:09:57 AM UTC-6
Estou escrevendo em resposta ao seu post “O Amor Cresce”, publicado no Dia de Natal.
Acho que talvez eu tenha o que você procura.
Deve estar disponível em 1º de março. Ou em torno de 1º de março.
No momento, estou morando em Omaha, mas não é exatamente onde quero estar. Então, se você pagar minha viagem, eu o entrego para você em Denver. Se esse for o lugar onde você realmente mora. Sem querer ofender, mas um monte de gente neste site mente. Sei que eles todos dizem para não mandar dinheiro, não mandar passagens e não fazer isso e aquilo. Mas as regras nem sempre valem, e nunca se sabe pelo que outras pessoas passaram até chegar aqui. Depois de ler seu post, tive certeza de que você entenderia.
Sem advogados. Sem agências. É por isso que estou neste site. Se qualquer um dos dois se envolver, eu desapareço com o item em questão. Não quero soar ameaçadora. É apenas a situação.
Gostaria de chegar um pouco antes e cuidar do assunto por aí. Assim podemos nos conhecer. Não estou pedindo dinheiro. Apenas as despesas. Está ficando difícil pra eu ficar aqui por mais tempo.
Esta oferta vale por uma semana a partir de hoje. Depois disso, vou procurar outras soluções. Desculpe se estou apressando você, mas tem que entender — estou tentando fazer o que é melhor. Anexei uma foto minha e, como você pode ver, sou branca, tenho boa saúde e não sou feia.
Muita gente na minha situação pode estranhar algumas das coisas que você mencionou sobre si mesma no post. Eu não, porque acho que entendo.
Se você me aceitar, eu aceito você.
Por favor, responda logo.
Mandy
Jill
Meu pai ia querer que eu estivesse aqui.
Não há outra explicação pra minha presença. Às vezes é como se eu existisse — vou pra escola, volto pra casa, marco presença na minha vida — só pra provar que a confiança que ele tinha em mim, o afeto, não estavam errados. Provar que eu sou a pessoa que ele sempre disse que eu era. Que sou. Que eu sei a coisa certa a se fazer e que sempre vou fazê-la no final, mesmo que leve um tempo pra chegar lá e mesmo que eu tenha de brigar o caminho todo.
Éramos muito parecidos nisso. Somos. Fomos. Ele era, eu sou. Quando ele estava por aqui, eu sabia quem eu era. Se me esquecesse, ele me lembraria. Em teoria, eu deveria ser agora a mesma pessoa que eu era. Foi ele que morreu, não eu. Então estou tentando ser aquela pessoa ainda, mesmo sem ele por perto há dez meses.
Mas vou te dizer uma coisa: é epicamente, estupidamente, monumentalmente difícil.
Difícil de lidar com pessoas que estão tentando ser gentis, reconfortantes. Difícil não odiar todos os meus amigos que ainda têm seus pais. Difícil sorrir e dizer “obrigada” pra todos aqueles estranhos com quem tenho de lidar no dia a dia e que não sabem fazer outra coisa a não ser agir como se o mundo fosse um lugar bom.
A coisa mais difícil de todas é amar minha mãe sem ele pra me mostrar como. Amar, talvez, não seja a melhor maneira de dizer. Obviamente, eu amo minha mãe. Compreensão, admiração, gentileza, compaixão e a amabilidade básica — que, você sabe, são as coisas que expressam amor, porque senão seria apenas uma palavra, certo? —, essas coisas são os desafios.
Especialmente compreensão. Principalmente quando ela está tomando decisões lunáticas, como a que nos trouxe para esta estação de trem às 7 horas da manhã de uma segunda-feira. Em vez de celebrar o Dia do Presidente[1] do jeito como deve ser celebrado — dormindo —, estamos esperando pela bomba-relógio humana que está prestes a afundar nossas vidas. Afundar ainda mais, quero dizer. Essa é a minha opinião, e não é nenhum segredo. Minha mãe sabe como me sinto sobre isso; ela simplesmente parece não ligar.
É uma coisa do luto. Qualquer um de fora, olhando, consegue analisar o que está acontecendo e enxergar, exceto pelo fato de que ela afirma não ser bem isso, não diretamente. Acabei parando de argumentar