Escrito em formato de diário e com fina ironia, A trégua traz a história de Martín Santomé, um homem maduro, de muita bondade, meio apagado, mas inteligente . Prestes a completar 50 anos, viúvo há mais de vinte, Santomé mora com os três filhos. Não se relaciona bem com nenhum deles, tem poucos amigos e mantém uma rotina monótona e cinzenta. No diário, conta os dias que faltam para a aposentadoria; mas não tem idéia do que fará assim que se livrar do trabalho maçante. Seu destino, no entanto, mudará quando conhecer Laura Avellaneda, uma jovem discreta e tímida contratada para ser sua subalterna. Com ela, Martín Santomé voltará a conhecer o amor, numa luminosa trégua para uma vida até então triste e opaca. Mas será que essa relação conseguirá ir adiante? Muito mais do que uma história de amor, A trégua é um questionamento sobre a felicidade e um retrato às vezes bem-humorado, às vezes ferino, dos difíceis relacionamentos humanos.
A Trégua – Mario Benedetti
Créditos
© Mario Benedetti
c/o Guillermo Schavelzon & Asoc. Agencia Literaria
[email protected], 1960
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Título original
La Tregua
Capa
Marcelo Pereira / Tecnopop
Imagem de Capa
Gueorgui Pinkhassov / Magnum Photos
Revisão
Sonia Peçanha
Lilia Zanetti
Isa Laxe
Conversão para e-book:
Abreu’s System Ltda.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B398t
Benedetti, Mario
A trégua [recurso eletrônico] / Mario Benedetti ; tradução Joana Angélica d’Avila Melo. - Rio de Janeiro : Objetiva, 2011.
recurso dogital
Tradução de: La tregua
Formato: ePUB
Requisitos do sistema:
Modo de acesso:
120p. ISBN 978-85-7962-101-7 (recurso eletrônico)
1. Romance uruguaio. 2. Livros eletrônicos. I. Melo, Joana Angélica d’Avila. II. Título.
11-5174. CDD: 868.993953
CDU: 821.134.2(899)-3
Epígrafe
Minha mão direita é uma andorinha
Minha mão esquerda é um cipreste
Minha cabeça, de frente, é um senhor vivo
E, por trás, é um senhor morto.
VICENTE HUIDOBRO
Segunda, 11 de fevereiro
Só me faltam seis meses e 28 dias para estar em condições de me aposentar. Deve fazer pelo menos cinco anos que mantenho este cômputo diário do meu saldo de trabalho. Na verdade, preciso tanto assim do ócio? Digo a mim mesmo que não, que não é do ócio que preciso, mas do direito a trabalhar no que eu quiser. Por exemplo? Jardinagem, quem sabe. É bom como descanso ativo para os domingos, para contrabalançar a vida sedentária e também como defesa secreta contra minha futura e garantida artrite. Mas temo não conseguir agüentar isso diariamente. Violão, outra hipótese. Acho que me agradaria. Mas começar a estudar solfejo aos 49 anos deve ser meio desolador. Escrever? Talvez não o fizesse mal; pelo menos, as pessoas costumam gostar das minhas cartas. E depois? Imagino uma notinha bibliográfica sobre “as notáveis qualidades deste autor estreante que beira os 50”, e a mera possibilidade me causa repugnância. Que eu me sinta, até hoje, ingênuo e imaturo (isto é, só com os defeitos da juventude e quase nenhuma de suas virtudes) não significa que tenha o direito de exibir essa ingenuidade e essa imaturidade. Tive uma prima solteirona que, quando preparava uma sobremesa, insistia em mostrá-la a todos, com um sorriso melancólico e pueril que lhe havia ficado preso aos lábios desde a época em que se exibia para o namorado motociclista, o qual depois se matou numa de nossas tantas Curvas da Morte. Ela se vestia de maneira correta, inteiramente de acordo com seus 53; nisso, e no resto, era discreta, equilibrada, mas aquele sorriso reclamava um acompanhamento de lábios frescos, de pele roçagante, de pernas torneadas, de 20 anos. Era um gesto patético, só isso, um gesto que não chegava nunca a parecer ridículo, porque naquele rosto havia também bondade. Quantas palavras, só para dizer que não quero parecer patético.
Sexta, 15 de fevereiro
Para render passavelmente no escritório, preciso me obrigar a não pensar que o ócio está relativamente próximo. Do contrário, meus dedos se crispam e a letra redonda com a qual devo escrever os itens me sai quebrada e deselegante. A letra redonda é um dos meus maiores prestígios como empregado. Além disso, devo confessar que me dá prazer o traçado de algumas letras como o “M” maiúsculo ou o “b” minúsculo, nas quais me permiti algumas inovações. O que eu menos odeio é a parte mecânica, rotineira, do meu trabalho: repassar um lançamento que já redigi milhares de vezes, efetuar um balanço de saldos e constatar que tudo está em ordem, que não há diferenças a buscar. Esse tipo de tarefa não me cansa, porque me permite pensar em outras coisas e até (por que não dizer a mim mesmo?) também sonhar. É como se