A Terra tem Espaço – Isaac Asimov

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Isaac Asimov conseguiu reunir em um livro uma máquina que vê o passado, eleições presidenciais por computador, fuga de uma cela quadridimensional, adultério com um robô, e lição de matemática em 2157, entre outras.

    ISAAC ASIMOV           A TERRA TEM ESPAÇO       Tradução de: Affonso Blacheye Título Original Earth is Room Enough               Dedicado àqueles cavalheiros admiráveis e afáveis que originaram a primeira publicação deste livro:   ANTHONY BOUCHER HOWARD BROWNE JOHN CAMPBELL HORACE GOLD ROBERT LOWNDES LEO MARGULIES RAY PALMER JAMES QUINN LARRY SHAW RUSS WINTERBOTHAM     O PASSADO MORTO   Arnold Potterley era professor de História Antiga o que, por si só, não constituía perigo algum. O que modificou o mundo além de todos os sonhos foi o fato de que ele se parecia a um professor de História Antiga. Thaddeus Araman, chefe de Departamento da Divisão de Cronoscopia, poderia ter adotado as medidas adequadas se o professor Potterley tivesse um queixo avantajado e quadrado, olhos reluzentes, nariz aquilino e fosse bastante espadaúdo. Assim não sendo, Taddeus Araman via-se em seu gabinete diante de uma criatura bem-educada, cujos olhos azuis desbotados o fita varri com atenção e cuja figura de pequena estatura e elegantemente trajada parecia algo diluída, desde os cabelos castanhos e ralos até os sapatos muito bem engraxados, completando um terno de talhe conservador e de classe média. Araman perguntou, afável: – Em que posso ajudá-lo, professor Potterley? O professor Potterley respondeu em voz baixa que parecia combinar muito bem com tudo o mais nele: – Senhor Araman, vim procurá-lo porque o senhor é quem decide as coisas na cronoscopia. Araman sorriu e retrucou: – Não é bem assim. Acima de mim encontra-se o Comissário Mundial de Pesquisas e acima dele encontra-se o Secretário Geral das Nações Unidas. E acima de ambos, é claro, estão os povos soberanos da Terra. O professor Potterley sacudiu a cabeça, rejeitando aquelas palavras. – Eles não estio interessados na cronoscopia. Vim procurá-lo, senhor, porque há dois anos que tento obter permissão para fazer alguma visita no tempo... cronoscopia, é do que estou falando... relacionada às minhas pesquisas sobre a antiga Cartago. E não obtenho essa permissão. Meus fundos para pesquisa são todos eles muito certos, não existe qualquer irregularidade nas minhas pesquisas intelectuais, mas ainda assim... – Tenho certeza de que não se trata de irregularidade alguma – contrapôs Araman, visando acalmar o visitante. Vasculhou então as folhas finas de reprodução, na pasta à qual o nome de Potterley havia sido afixado. Tinham sido produzidas pelo Multivac, cuja vasta memória amplamente analógica cuidava de todos os registros do departamento. Terminado isso as folhas podiam ser destruídas e depois reproduzidas, a pedido, em questão de minutos. E enquanto Araman examinava aquelas páginas, a voz do professor Potterley prosseguiu, em tom monótono. Dizia ele: – Preciso explicar que meu problema é muitíssimo importante. Cartago foi o comercialismo antigo levado ao zênite. Cartago pré- romana foi o análogo antigo mais próximo à América pré-atômica, pelo menos na medida de seu relacionamento ao comércio, ao mundo dos negócios em geral. Também foram os marujos e exploradores mais audaciosos antes dos vikings, e se saíram melhor nisso do que os gregos, a quem tanta gente louva em demasia. Ele fez uma pausa, prosseguiu: – Conhecer Cartago seria muito valioso e profícuo, mas ainda assim o conhecimento único que temos a seu respeito vem das obras escritas por inimigos ferozes que os cartagineses tiveram, os gregos e os romanos. A própria Cartago nunca escreveu coisa alguma em sua defesa e, se o fez, tais livros não sobreviveram. Como resultado disso os cartagineses têm estado entre os vilões preferidos da história e talvez isso não seja justo. A visita no tempo pode endireitar os fatos. O professor Potterley disse muitas outras coisas e Araman observou, ainda revirando as folhas de reprodução que tinha diante de si: – O senhor deve compreender, professor Potterley, que a cronoscopia ou visita no tempo, se assim preferir chamá-la, é processo dos mais difíceis. O professor Potterley fechou a cara
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