Demônios do Oceano – Justin Somper

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2505, litoral oeste da Austrália, em um lugar conhecido como Baía Quarto Crescente, é ali que os irmãos Connor e Grace partem, após a morte do pai, faroleiro da cidade onde viviam. Negando a serem adotados ou irem para um orfanato, decidem fugir pelo mar, no pequeno barco de seu pai. Contudo a sorte dos irmãos não melhora, pois quando conseguem se afastar da costa são pegos de surpresa por uma tormenta. A pequena embarcação não suporta e é partida em dois, jogando Grace e Connor nas águas em revolta. Os dois logo são resgatados, o garoto por piratas e Grace pelos lendários Vampiratas.

            Tradução de ALVES CALADO               Para meu pai, John Dennis Somper, com amor e gratidão por me proteger da tempestade                   Baía Quarto Crescente litoral leste da Austrália. Ano de 2505.             PRÓLOGO   À tempestade, a cantiga e o navio       Quando o primeiro estrondo de trovão soou sobre a Baía Quarto Crescente, Grace Tormenta abriu os olhos. Um clarão de relâmpago irrompeu atrás da cortina. Tremendo, ela afastou as cobertas e foi até a janela do quarto, que havia se destrancado e estava escancarada, batendo ao vendaval como uma asa de vidro. Grace estendeu a mão para fechá-la. Foi preciso algum esforço e a chuva a encharcou, mas conseguiu. Prendeu a janela mas deixou-a ligeiramente entreaberta — não querendo isolar a tempestade por completo. Esta produzia uma música áspera com muitos rufos de tambor e pratos de orquestra estourando. Seu coração disparava de empolgação e de medo. A água da chuva era gelada no rosto, no pescoço e nos braços. Fazia a pele pinicar. Do outro lado do quarto, Connor ainda dormia — a boca escancarada, um braço pendendo na lateral da cama. Como conseguia dormir com um barulho daqueles? Talvez seu irmão gêmeo tivesse ficado exausto de jogar futebol a tarde inteira. Do outro lado da janela do farol, a baía estava sem navios. Não era uma noite para se velejar. O facho do farol varria a superfície do oceano, iluminando as ondas alvoroçadas. Grace sorriu, pensando no pai lá em cima na sala da lâmpada, vigiando o porto, mantendo todo mundo em segurança. Outro raio estalou e se dividiu do lado de fora da janela. Cambaleando para trás, Grace esbarrou na cama de Connor. De repente o rosto do irmão se franziu e em seguida os olhos se abriram. Ele olhou para cima com uma mistura de confusão e irritação. Ela espiou seus olhos verdes luminosos. Eram exatamente da mesma cor dos dela — como se fosse uma esmeralda partida em duas. Os olhos do pai eram castanhos, por isso Grace sempre achava que eles deviam ter puxado à mãe. Algumas vezes, nos sonhos, uma mulher aparecia à porta do farol, sorrindo e olhando para Grace com os mesmos olhos verdes e penetrantes. — Ei, você está toda molhada! Grace percebeu que estava pingando água de chuva em Connor. — É uma tempestade. Venha olhar! Agarrou o braço dele e puxou-o de sob as cobertas, arrastando-o para a janela. Ele ficou ali parado esfregando o sono dos olhos, enquanto outra veia de relâmpago dançava diante deles. — Não é incrível? — perguntou Grace. Connor confirmou com a cabeça, mas ficou quieto. Mesmo tendo vivido todos os dias da vida no farol à beira do mar, nunca se acostumara com a força bruta do oceano — com a capacidade de, num momento, se transformar de um lago calmo num caldeirão violento. — Vamos ver o que papai está fazendo — disse ele. — Boa idéia. — Grace pegou o roupão na porta do quarto e se enrolou. Connor pôs um casaco com capuz por cima da camiseta. Juntos saíram correndo do quarto e subiram a escada em espiral até a sala da lâmpada. Enquanto subiam, o ruído da tempestade ficava mais alto. Connor não gostou nem um pouco, mas não diria a Grace. Sua irmã era bastante corajosa. Era estranho. Grace era magra e ossuda como um ancinho, mas forte como uma bota velha. Connor era fisicamente forte; mas Grace tinha uma força mental de aço, que ele ainda não havia alcançado. Talvez nunca alcançasse. — Ei, olá! — disse o pai quando eles irromperam na sala da lâmpada. — A tempestade acordou vocês? — Não, Grace me acordou — respondeu Connor. — Eu estava no meio de um sonho muito legal! Ia marcar o terceiro gol numa partida. — Não entendo como alguém consegue dormir com uma tempestade assim — disse Grace. — É barulhenta demais e linda demais. — Você é esquisita — provocou Connor. Grace franziu a testa e esticou o lábio inferior. Algumas vezes, mesmo sendo gêmeos, ela sentia que os dois eram totalmente opostos. O pai tomou um gole de chá de eucalipto, quente, e sinalizou para os dois
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