Sangue no Inverno – Mons Kallentoft

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É o inverno mais frio dos últimos tempos. Perto de Linköping, no coração da Suécia, um homem é encontrado morto, pendurado numa árvore. O estado do corpo faz lembrar os rituais de uma antiga religião viking, em que, justamente nessa época do ano, se ofereciam animais e seres humanos aos deuses em troca de felicidade e bem-estar. Mas os tempos são outros. Terá sido mesmo uma oferenda ou tão somente um crime com requintes de crueldade?

Lá do alto, sob as estrelas do céu, uma voz se faz ouvir. A detetive Malin Fors é a única capaz de percebê-la; uma presença que acompanhará de perto seus esforços para reconstruir o crime. Com sua sensibilidade aguçada e o apoio de Zeke, seu parceiro nas investigações, Malin terá de buscar as pistas encobertas pela neve. Sua única certeza é de que o achado irá abalar a vida tranquila da cidade e trazer de volta terríveis segredos há muito escondidos…

PARTE I 9 — Malin, você regou as flores? Do contrário, elas não vão aguentar o inverno. “A resposta é tão óbvia”, pensa Malin, “que nem era preciso perguntar. A afirmação seria também desnecessária: a tendência dele é falar pedagogicamente, a fim de defender seus interesses.” — Estou a caminho do apartamento para fazer isso. — Você não fez isso antes? — Desde a última vez que falamos, não. A conversa aconteceu logo depois de ela ter deixado a garagem da polícia e estar à espera do sinal verde na esquina do cemitério com a antiga garagem dos bombeiros. Hoje, o Volvo resolveu pegar logo, apesar de o frio ser o mesmo. Era como se ela estivesse com o pai no sinal. Irritado, adorável, exigente, egocêntrico, bondoso. “Atenção especial e total para mim; eu não vou parar antes que você responda. Não estou incomodando, estou?” Na reunião com o grupo de investigação na polícia discutiu-se a questão da espera. A espera de que Börje Svärd chegasse. Atrasou-se por causa da esposa. A espera de que alguém perguntasse a respeito do braço partido do policial Nysvärd, acidentado quando o cadáver caiu da árvore. — De licença médica por duas semanas e meia — diz Sven Sjöman. — Pareceu satisfeito quando falei com ele, embora ainda não tivesse sido tratado. — É uma situação macabra, a de receber um cadáver congelado e roxo de 150 quilos na cabeça. Mas podia ser pior — comenta Johan Jakobsson. Depois disso, a espera de que alguém dissesse aquilo que todos já sabiam. Que ainda não tinham nenhuma pista para seguir. A espera de que o agente funerário Skoglund terminasse seu serviço, que o retrato fosse tirado, o filme revelado e feitas as cópias. Börje: — O que é que eu disse? Que ninguém iria reconhecê-lo pelas fotos. A espera pela própria espera, o vigor espremido de policiais cansados, sabendo que é preciso ter pressa, mas que não podem fazer mais nada senão esperar, erguer os braços e dizer: “Vamos ver! Quando todos, cidadãos, jornalistas, querem saber as novidades, qual é a situação, sabemos o que aconteceu, queremos saber quem fez isso”. A espera por Karim Akbar, até ele atrasado, ainda que tenha telefonado de sua casa em Lambohov. A espera de que o filho desligasse o som de seu estéreo no fundo, depois a espera de que a voz de Karim desaparecesse do viva voz ligado no telefone. — Vocês compreendem, isso não serve. Sven, você tem de convocar uma nova entrevista coletiva para amanhã, a fim de confirmar o que sabemos e de acalmá-los. “E você vai ter mais uma oportunidade para se mostrar”, pensou Malin. “De qualquer maneira, vai estar lá para responder às perguntas, todas agressivas, e cuidar para que continuemos nosso trabalho com toda a tranquilidade. E você é o responsável, Karim. E precisa entender a força de um grupo em que todos têm papéis definidos.” As palavras cansadas de Sven, depois de Karim ter desligado: — Devíamos ter aqui, como em Estocolmo, um chefe só de comunicação, de relações públicas. — É você que tem treinamento para lidar com a mídia — diz Zeke. — Você devia ser, talvez, esse chefe, não é verdade? Risos na sala. Descontração. Sven: — Aposentadoria à vista, e você quer me atirar aos leões, Zeke? Mas, que gentileza… O sinal vermelho dá lugar ao verde. O Volvo hesita, mas roda depois pela Drottninggatan abaixo. — Como está a mamãe, papai? As flores passam muito bem. Pode ficar descansado. Prometo. — Ela está dormindo sua sesta da tarde. Está fazendo 25 graus aqui, o sol está forte. Como é que está aí? — Nem queira saber. — Quero, sim. — Papai, é melhor não. — Aqui em Tenerife, de qualquer maneira, faz sol. Como está Tove? — Está com o Jan-Erik. — Malin, vou desligar. Senão vai ficar caro. Não esqueça as flores. “As flores”, pensa Malin, no momento em que estacionava à porta de uma casa secular, de cor ocre, na rua Elsa Brännströms, onde seus pais têm um apartamento relativamente grande. “As flores jamais podem esperar.” Malin movimenta-se pelo apartamento dos pais, um fantasma de seu próprio passado. Os móveis
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