Neste eletrizante romance – que deu origem ao filme homônimo de Martin Scorcese, estrelado por Leonardo di Caprio -, os xerifes Teddy Daniels e Chuck Aule vão à Shutter Island procurar uma mulher que desapareceu misteriosamente do Hospital Psiquiátrico Ash
Ilha do Medo – Dennis Lehane
DENNIS
LEHANE
ILHA DO MEDO
ORIGINALMENTE PUBLICADO COMO PACIENTE 67
Tradução:
LUCIANO MACHADO
2ª. edição
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Copyright © 2003 by Dennis Lehane
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor
no Brasil em 2009.
Título original:
Shutter Island
Preparação:
Valéria Franco Jacintho
Revisão:
Ana Maria Barbosa Carmen S. da Costa
Os personagens e as situações desta obra são reais apenas no universo
da ficção; não se referem a pessoas e fatos concretos, e sobre eles
não emitem opinião.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
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Lehane, Dennis
Ilha do medo / Dennis Lehane ; tradução Luciano
Machado. — 2a. ed. — São Paulo : Companhia das Letras, 2010.
Título original: Shutter Island.
ISBN 978-85-359-1625-6
1. Ficção policial e de mistério (Literatura norte-americana) i. Título.
10-01549 CDD-813.0872
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índice para catálogo sistemático:
1. Ficção policial e de mistério : Literatura norte-americana
813-0872
2010
Para Chris Gleason e Mike Eigen,
que souberam ouvir. E escutar.
E que me apoiaram quando necessário.
... devemos sonhar os nossos sonhos
e vivê-los também?
Elizabeth Bishop, Questions of travel
PRÓLOGO
Dos diários
do doutor Lester Sheehan
3 de maio de 1993
Faz muitos anos que não vejo a ilha. Da última vez, eu a vi do barco de um amigo que se aventurou no anteporto; avistei-a ao longe, para além do porto interior, envolta numa bruma estival, mancha de tinta no céu, deixada por alguma mão descuidada.
Faz mais de duas décadas que não ponho o pé lá, mas Emily diz (às vezes brincando, às vezes não) que não sabe ao certo se saí mesmo de lá. Certa vez ela me disse que o tempo, para mim, não passa de uma série de marca-livros que uso para saltar para a frente e para trás no texto de minha vida, voltando repetidas vezes aos acontecimentos que fizeram de mim, aos olhos dos colegas mais perspicazes, um caso clássico de melancolia.
Emily deve ter razão. Ela quase sempre tem razão.
Logo vou perdê-la também. É uma questão de meses, como nos disse o doutor Axelrod na quinta-feira passada. Faça essa viagem, ele aconselhou. Essa de que você sempre fala. Vá a Florença e a Roma, a Veneza na primavera. Porque você também não está com um aspecto muito bom, Lester.
Acho que não estou mesmo. Ando perdendo minhas coisas, principalmente meus óculos. As chaves do carro. Entro em lojas e não me lembro do que queria comprar, vou ao teatro e na saída não me lembro de nada do que vi. Se o tempo para mim é mesmo uma série de marca-livros, então sinto-me como se alguém tivesse sacudido o livro, fazendo cair no chão pedacinhos de papel amarelado, tirinhas de caixas de fósforos e pazinhas de mexer café, tendo o cuidado de alisar as folhas amarfanhadas.
Por isso quero registrar essas coisas por escrito. Não para mudar o texto de modo a me apresentar de forma mais favorável. Não, não. Ele nunca aceitaria uma coisa dessas. À sua maneira, detestava mentiras mais que qualquer outra pessoa. Quero apenas preservar o texto, tirá-lo do lugar onde se encontra (o qual, verdade seja dita, está começando a ficar úmido e a gotejar) e colocá-lo nestas páginas.
O hospital Ashecliffe ficava na planície central, a noroeste da ilha. E tinha um aspecto inocente, permitam-me dizer. Não parecia um hospital. Para falar a verdade, lembrava mais um internato. O diretor morava bem na frente do edifício principal, numa casa vitoriana de telhado com mansarda, e o médico-chefe se instalara no minicastelo em estilo Tudor, imponente e sombrio, outrora destinado ao comandante da União responsável pelo litoral nordeste. D